Vivemos tempos desencantados, em que o brilho das coisas parece ter se apagado sob o peso das máquinas e das palavras vazias. As manhãs nascem, mas já não encantam — são apenas repetições de luz sobre o cansaço. O homem caminha entre ruínas que ele mesmo construiu: ruínas de fé, de sonho, de sentido.
Tudo parece gasto — até o amor, que antes incendiava, agora se consome em telas frias. Os deuses se recolheram, cansados de não serem ouvidos. O silêncio que ficou não é paz, é ausência.
Mas há, ainda, um sopro — discreto, insistente — que vive nas frestas. Nos olhos que se recusam a esquecer o espanto. Nos corações que ainda se permitem sonhar, mesmo sabendo que o sonho é ferida. Talvez o encantamento não tenha morrido: apenas se escondeu nas sombras, esperando que alguém o chame pelo nome.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:
Postar um comentário